quarta-feira, março 04, 2009

Um Caso de Amor em Vancouver [pt.1]

No que um piscar de olhos, antes mesmo que eu enxergasse meu reflexo no vidro temperado, a porta se abriu.
Lá estava, no Aeroporto. E ciente de que meu destino seria muito mais longe do que atravessar estados.

Sempre gostei de participar de concursos culturais, é fato. Desde criança, juntava as figurinhas daqueles chicletes quadrados, e mandava pro correio, na esperança de ser contemplado com um autorama, ou uma viagem pra Disney.
Nunca ganhei nada com isso. Não mentindo, mas uma vez ganhei uma caixa de bombons, de uma fábrica de chocolates. Mas foi porque eu solicitei.
Eis que em um dia, meu celular toca.

- Alô?
- Alô, pois não?
- O sr. Marcos Frenzel.
- É ele.
- Sr. Marcos, aqui é da agência de viagens Tripworld. Temos uma notícia ótima para o senhor.

Lá estava eu, naquele saguão altamente iluminado. Sentia um leve tremor no corpo, do tipo quando se sente frio logo pela manhã, no inverno. Não era frio, era algo mais intenso.
Larguei tudo. Família, emprego. Deixei o antigo pra trás. Pra muitos, um ato de insanidade.

Sempre gostei de intensidade, de renovação. Já passei por 7 empresas diferentes, por ter essa mania. Mas estava decidido. 
Sentia vontade de gritar, urrar no meio daquele saguão.
Não só pelo rancor dirigido às empresas que nunca sortearam nenhuma carta. Era algo mais vivo, vinha de dentro. Uma libertação.

Assento 08, não me esquecerei desse número. Em instantes, após passar por alguns assentos, me acomodei no meu. Passavam ao meu lado inúmeras pessoas, de diferentes etnias.
Olhava fixamente para cada uma delas, e pensava na vida que elas tiveram. 
Será que já sentiram vontade de sumir? De por a mochila nas costas e pegar o primeiro vôo pra qualquer lugar?
Apesar de ter meu nome circulado em alguns veículos de imprensa, preferi manter a discrição.
Poucas pessoas sabiam da minha ida ao Canadá. Preferi assim.
Coloquei dentro da minha caixa craniana que aquilo ali tinha tudo pra ser uma fuga minha desse mundo para outro - Marte, talvez.
Novamente uma vontade de gritar qualquer palavrão que viesse em mente. Novamente, um grito mental.
Minutos depois, o avião ergue-se do chão.

Aquilo tudo iria ser único. Meu coração subia as nuvens, acompanhando o passo da música que insistia no mesmo Dó.

E eu, mal esperava o que viria depois do trem de pouso tatear o chão.

2 comentários:

Caroline disse...

Eu também nunca ganhei promoções em minha vida.
Minto. Já ganhei um ingresso para o show do Pixote, pela Eldorado.
Não peguei o ingresso e, conseqüentemente, não fui no show.
Desde então desisti de promoções.

Que o Marcos tenha uma boa viagem. E que o avião não caia subitamente em algum oceano por aí. Seria patético demais e ele não teria 'Um Caso de Amor em Vancouver'.

:*

ree ϟ disse...

eu to no monteiro \o\